Em 1590, a fim de estudar a possibilidade da fundação de um Convento na cidade do Rio de Janeiro o então superior frei Pedro Viana recebe oferta procedente do Senado da Câmara, para edificação de um Convento nas adjacências da capela de Nossa Senhora do Ó, na várzea - e no mesmo local onde os monges Beneditinos haviam se instalado provisoriamente poucos anos antes. Com a aceitação dele, se inicia a instalação da quarta comunidade Carmelita no Brasil. Três anos mais tarde os frades do Carmelo iniciariam a construção de mais uma casa na Capitania do Rio de Janeiro, desta vez na atual cidade de Angra dos Reis. Ainda tratando da cidade do Rio de Janeiro, a dita ermida do Ó recebida por meio de doação em favor dos Carmelitas desabou tempos depois, tendo os religiosos construído sobre suas ruínas o primeiro Convento de Nossa Senhora do Carmo. Parte destas fundações está exposta em diferentes planos, compondo um sítio arqueológico dentro da atual igreja que pode ser visitado. Entre elas, há vestígios da paliçada que possivelmente guarnecia a cidade originalmente, talvez o mais antigo remanescente arquitetônico daquela época. Há também prováveis resquícios da capela primitiva, com um rodapé largo e avermelhado (e por isso denominada Capela Vermelha), além de azulejos pertencentes à antiga igreja, datados do século XVIII. Erigida entre 1752 e 1761, esta nova igreja foi consagrada à Nossa Senhora do Carmo, na antiga Rua Direita (atual Primeiro de Março), sendo inaugurada junto com o novo convento carmelita, construído ao lado. Antes da conclusão das obras, todavia, a mesma igreja foi requisitada pela Casa Real para servir ao Príncipe Regente, em 1808, ganhando um terceiro pavimento. Passou a servir como Capela Real, Imperial e Catedral Metropolitana até 1976, sofrendo sucessivas reformas e acréscimos. Sua fachada principal apresenta o primeiro andar em estilo pombalino original do século XVIII, época da ereção da nova igreja conventual pelos Carmelitas, com embasamento em pedra e escadaria, três portadas arquitravadas com sobreverga e portas em duas folhas de madeira maciça, entalhadas com ornatos em acanto e rocalha, agrupados ao centro e nos ângulos da porta. Na parte inferior, há uma pinha envolta por ornatos de motivos fitomorfos. Uma cornija separa o segundo pavimento, cuja parte central é apontada para abrir espaço para um relevo com o brasão carmelita. No segundo andar encontram-se as três janelas do coro separadas entre colunas embebidas, com corpo canelado e capitel dórico. As janelas possuem vitrais, delimitados por arcos plenos arquivoltados. Antecedendo o topo da fachada, há o entablamento com quatro colunas embebidas que repetem os mesmos motivos ornamentais do pavimento inferior, mas com capitel jônico, cuja sucessão de planos gera movimento à percepção dos tramos. Ao centro do terceiro seguimento, há um nicho onde se destaca a imagem monocromática de São Sebastião, padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, sobre peanha de formato arredondado. Na parte superior do nicho, o arremate é arquivoltado; nas esquinas, constam volutas geometrizadas, como se fossem aletas. Acima há o arranque de frontão em destaque na platinada, que leva ao centro medalhão com a data 1922 (ano da última reforma com acréscimos ecléticos feitos na fachada), sobre o qual vemos uma cruz latina no acrotério. A torre sineira possui janelas com sobreverga e uma janela principal com arremate arquivoltado. Sobre esta, há o Brasão do Carmo e relógio. A sineira - com fenestra única - carrega alguns dos mesmos sinos da antiga capela primitiva de Nossa Senhora do Ó, ladeada por pináculos e óculo ao centro. No alto da torre, vemos imagem em bronze de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, em pedestal com pináculos nas duas pontas. A torre é uma construção do século XX, projetada pelo arquiteto italiano Rafael Rebecchi, alteada em relação à original, além de mais afastada da fachada principal, reproduzindo elementos como colunas embebidas e demarcação de pavimentos, seguindo a intenção de gerar movimento à fachada principal. Quem está no agitado Centro da cidade e resolve adentrar a Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé provavelmente se sentirá transportado para um outro mundo e em outra época. A arquitetura imponente e a suntuosa decoração de seu interior são marcantes na igreja, que por 168 anos ostentou o título de Catedral do Rio de Janeiro. O ambiente apresenta as magníficas talhas em estilo rococó do século XVIII, de autoria de Inácio Ferreira Pinto, a bela pintura do teto com a representação da Virgem do Carmo entregando o escapulário a São Simão Stock, atribuída ao pintor José de Oliveira Rosa, as representações dos apóstolos em molduras ovais, de autoria do pintor José Leandro de Carvalho no início do século XIX. Tal conjunto harmonioso faz da Igreja do Carmo da Antiga Sé um dos mais belos dentre os diversos monumentos religiosos da antiga capital brasileira. A história da presença de religiosos em terras cariocas se inicia em 1565, quando o Pe. Gonçalo de Oliveira funda uma casa-igreja de pau-a-pique e palha no morro Cara de Cão, na cidade recém-fundada por Estácio de Sá, invocando o nome de São Sebastião. Tempos depois, a cidade é transferida para o Morro do Castelo e lá é erguida, entre 1568 e 1583, uma nova capela, bem simples, que contava com os paramentos da primitiva construção, para onde foram transladados os restos mortais de Estácio de Sá e o marco de fundação da cidade. Com o aumento da população da cidade e sua expansão para a várzea, diversas ermidas são construídas, sendo talvez a mais antiga a de Nossa Senhora do Ó, invocada também pelo título de Nossa Senhora da Expectação. Essa ermida foi ocupada inicialmente pelos beneditinos em 1589 e, a partir de 1590, pelos religiosos carmelitas, que construíram seu convento próximo a ela; mas a ermida desabou tempos depois, tendo os religiosos construído sobre suas ruínas e fundação a Capela do Convento de Nossa Senhora do Carmo. Parte dessas ruínas estão expostas em diferentes planos, compondo um sitio arqueológico dentro da atual Igreja com a finalidade de museu arqueológico e que podem ser visitadas; entre elas, vestígios da paliçada que provavelmente guarnecia a cidade originalmente, talvez o mais antigo remanescente arquitetônico da cidade do Rio de Janeiro. Há também vestígios prováveis da capela primitiva, com um rodapé largo e avermelhado e por isso denominado Capela Vermelha; e azulejos pertencentes à antiga Igreja, datados do século XVIII. Erigida entre 1752 e 1761, a nova Igreja construída pela ordem carmelita foi consagrada a Nossa Senhora do Carmo, na antiga Rua Direita (atual Primeiro de Março), sendo inaugurada junto com o convento carmelita construído ao lado. Da capela primitiva também provém alguns dos sinos que compõem o atual conjunto da Igreja. Por ocasião da vinda da corte lusitana para o Brasil, D. João requisitou o Convento do Carmo, próximo ao Paço, para abrigar D. Maria I e suas damas de companhia. Neste contexto, a Capela do Convento de Nossa Senhora do Carmo, o templo mais luxuoso da cidade à época, foi elevada à condição de Capela Real e de Sé em 1808, apesar de ainda estar inacabada. Somente por ocasião do casamento de D. Leopoldina e D. Pedro I em 1817 é que receberá novas intervenções, com as paredes sendo pintadas de cor clara e a talha original de 1785 passando pela técnica de douramento, além de receber um novo sino com o brasão da Família Real. Após a Independência, a Capela recebe o título de Capela Imperial; um terceiro andar é incorporado ao edifício e suas fachadas são concluídas, com projeto do arquiteto português Pedro Alexandre Cavroé. Até por volta de 1830, a torre sineira era de madeira, quando foi construída uma nova torre, provavelmente de alvenaria. A Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé foi palco em 1818 da aclamação de D. João VI como rei, após a morte de D. Maria I. Com a proclamação da Independência, recebe o título de Capela Imperial, onde ocorre a coroação de D. Pedro I (1822) e D. Pedro II (1841). Na Capela ocorreram ainda outras importantes cerimônias: o casamento de D. Maria Teresa, primogênita de D. João VI, com o Infante D. Pedro Carlos de Bourbon e Bragança, da Espanha (18100; o batismo da futura rainha de Portugal, D. Maria II (1819); o batismo do futuro imperador D. Pedro II (1825) e da Princesa Isabel (1846), além do seu casamento com o Conde D’Eu (1864), primeiro casamento de príncipes no Continente Americano. Após a proclamação da República, a Capela de Nossa Senhora do Carmo continua como Sé e recebe o título de Catedral Metropolitana, sendo nela sagrado o primeiro Cardeal do Brasil e da América Latina, D. Joaquim Arcoverde. Em 1905, através de nova reforma, a antiga torre sineira é substituída por uma mais imponente, ostentando 52 metros. Outros acréscimos ainda viriam: uma nova ornamentação da fachada principal em 1922 e o mausoléu para abrigar os restos mortais do Cardeal Arcoverde em 1930. Somente em 1976, com a construção da nova Catedral Metropolitana, a Capela deixa seu posto de Catedral e passa a ser conhecida como Antiga Sé. Referências: Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé: História e Restauração. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008. NOGUEIRA, Maria Clara Nunes; MELLO, Isabeth da Silva. Restauração inserida no contexto de reabilitação: o caso da restauração da Igreja Nossa senhora do Carmo da Antiga Sé. Boletim do Gerenciamento, n.20, 2020, p.55-70. OLIVEIRA, Myriam Andrade Ribeiro de; JUSTINIANO, Fátima. Barroco e Rococó nas igrejas do Rio de Janeiro, v.2. Brasília: Iphan/Programa Monumenta, 2008.